sábado, 18 de fevereiro de 2012
Reflexões do fundo do baú
Há grandes mestres espirituais que pregam o desapego ao passado e a concentração no tempo presente, o hoje, o agora, este momento. Afinal, é tudo o que temos. Por mais que tentemos, desesperadamente, controlar a vida e o mundo, não sabemos ao certo o que nos acontecerá nos próximos dois segundos. Um telefonema que pode mudar o rumo da vida, um mal súbito, uma palavra fora do lugar,um rompimento, uma alegria, uma tragédia, um ato de bravura. Pronto, tudo passa a ser diferente.
Também acho que não devemos viver de passado, mas ele serve, sim, para olharmos o que construímos ou deixamos de construir, avaliarmos como e onde chegamos, se é que já chegamos a algum lugar. Ao revirar o baú de fotografias de minha infância e do meu filho, começei a cerzir mentalmente a colcha de retalhos que nos transformou no que somos hoje. A minha, claro, com uma extensão infinitamente maior que a dele, além de já um pouco puída. Mas a do meu rapaz adolescente, de forma muito interessante, apresenta tecidos com detalhes marcantes e bem diversificados. Muitos deles, claro, ainda são convergentes com os meus. Mas, à esta altura, a maioria está sendo costurada com linha diferente, seguindo uma trilha de filhos e recortes do tamanho e formato que ele vai determinando a cada momento vivido.
Olhando as imagens congeladas no papel, é como se o tempo tivesse parado para que eu pudesse refletir. Quem já não passou por isso? Afinal, as fotografias não servem mesmo para paralisar um momento como se fosse eterno? Na cabeça, mil pensamentos voando desordenadamente à procura de algum tipo de porto seguro. Será que fiz realmente o meu melhor naquele momento? Fui uma criança feliz? Sabia o que se passava ao meu redor? O que, de fato, me recordo daquela situação? Não, não dá para sofrer e achar que podemos contar a história de novo. Mesmo sendo óbvio, é importantes dizermos sempre para nós mesmos, como um mantra, que esta possibilidade não existe.
Mas se nos basearmos nas terorias dos grandes mestres, para que serve o passado?
Ao abrir os meus álbuns de retratos antigos, cheguei à conclusão de que, para mim, tem uma função muito específica. Olhando a série de imagens que compõem a tal colcha que tenho produzido ao longo de quase quatro décadas, posso dizer que o amontoado de retratos é parte da soma dos meus erros e acertos. O saldo disso? Um presente mais equilibrado, talvez. O futuro, como diriam os velhos mestres, não sei.
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