domingo, 8 de abril de 2012

O néctar da felicidade


Filha, você é a minha fonte de inspiração. Este texto também está publicado em minha coluna no site Plena Mulher.

Ao som da perfeita música Clair de Lune, de Claude Debussy, que faz bailar lentamente as borboletas penduradas no móbile do berço, amamento a minha menininha.



Fecho rapidamente os olhos e deixo o suave cantar dos pássaros me transportar até a floresta imaginária onde habitam alguns de meus sentimentos mais puros. A harmonia entre a manifestação da natureza na melodia do compositor francês e os movimentos silenciosos do meu corpo para produzir o néctar que alimenta o bebê é impressionante. Mágica sintonia.



Esse momento, que se repete várias vezes ao dia, é sempre uma importante pausa para reflexão. Valores que recebi e transmiti, responsabilidades que assumi, sentimentos múltiplos que acumulei, momentos de libertação, redenção e transmutação da vida. Conviver com um bebê é ter a oportunidade de enxergar a essência do que realmente somos: carentes de afeto e calor humano, ávidos por bom alimento, descanso e sempre em busca do equilíbrio de nossas necessidades biológicas.



Para o pequeno ser que se nutre do alimento que produzo, este é o ápice do prazer e felicidade. A expressão de satisfação e alegria no rosto do bebê me faz pensar em quantas vezes conseguimos nos sentir assim ao longo da vida. Da infância à velhice, como nos comportamos quando estamos diante de algo que nos proporciona grande contentamento?



Não tenho dúvida de que a maternidade é puro néctar para a alma. Muitas vezes a sensação não é de ser apenas mãe dos próprios filhos, biológicos ou não, mas de todo o universo – tamanho o poder e energia que emanam por todos os poros. E mesmo com as dificuldades que se apresentam nesta jornada, é um bom caminho para a plenitude.



Mas sentir-se plena é também realizar-se profissionalmente, sustentar os sonhos com o alimento da persistência e do trabalho árduo, respeitar as suas aptidões e talentos. Amar e ser amada, ter o direito de experimentar relacionamentos que podem ou não dar certo, ampliar conhecimento sobre temas variados, permitir-se dar gargalhadas por aí e saborear o que a vida nos proporciona de melhor. E o melhor pode ser o mais simples, mais trivial, como regar uma planta ou preparar uma macarronada com bastante molho.



Muitas vezes, o que nos faz sofrer é achar que existe apenas uma fonte de alimento para nutrir o nosso coração, mente e espírito. A ideia de que somos seres que precisam ser encaixados numa forma para alcançar a felicidade nos traz uma visão equivocada a respeito de nós mesmos. Somos múltiplos, mutáveis, muitos personagens em um só. E é essa capacidade que nos torna deliciosamente complexos, misteriosos, confusos e loucos.



Observar a minha pequena menina em seu momento de profunda alegria é uma forma de fazer o caminho de volta ao lar da essência feminina. Em que momento da vida abandonamos o que somos, de fato, para ceder lugar à superficialidade? Por que, muitas vezes, sufocamos as raízes instintivas de nossa natureza, supondo que assim seremos mais amadas? Um bebê, pura argila a ser moldada pela vida, mostra exatamente como somos em forma de matéria bruta a ser transformada pelas mãos, habilidosas ou não, do mundo.



Ainda embalada pelo som de Debussy, sinto que todas as minhas buscas poderiam terminar exatamente naquele instante. Depois de tanto peregrinar, afinal, era como se o néctar da felicidade estivesse o tempo todo ali, dentro de mim.

















Segue o link para o novo texto da minha coluna no site Plena Mulher.
http://www.plenamulher.com.br/colunas.asp?ID_COLUNA=627&ID_COLUNISTA=73

Nenhum comentário:

Postar um comentário